Olá! Dra. Raquel aqui, e hoje vamos abordar um tema que vai além dos sintomas gastrointestinais clássicos: a Doença Celíaca. Embora muitas vezes associada a desconforto abdominal e problemas digestivos, essa condição autoimune desencadeada pelo glúten pode ter manifestações surpreendentemente diversas, afetando outros sistemas do nosso corpo e impactando significativamente a qualidade de vida.
Para entendermos a extensão da Doença Celíaca, é crucial lembrar que ela não é apenas uma intolerância alimentar. Em indivíduos geneticamente predispostos, a ingestão de glúten – proteína encontrada no trigo, cevada e centeio – desencadeia uma resposta imunológica anormal no intestino delgado. Essa reação inflamatória crônica danifica as vilosidades intestinais, estruturas responsáveis pela absorção de nutrientes essenciais. Com a superfície de absorção comprometida, podem surgir deficiências nutricionais com consequências em diversos órgãos e sistemas.
As Manifestações Extra-Intestinais: Um Quebra-Cabeça Diagnóstico
Enquanto os sintomas digestivos como diarreia, inchaço e dor abdominal são comuns, muitos pacientes com Doença Celíaca podem apresentar sintomas fora do trato gastrointestinal, o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico. É fundamental estarmos atentos a essas manifestações atípicas:
- Anemia: A má absorção de ferro, vitamina B12 e folato pode levar à anemia, causando fadiga, palidez e falta de ar.
- Saúde Óssea: A deficiência de cálcio e vitamina D, secundária à má absorção, aumenta o risco de osteopenia e osteoporose, tornando os ossos frágeis e mais propensos a fraturas. Em alguns casos, a perda de massa óssea pode ser a principal manifestação da doença.
- Saúde Bucal: Aftas recorrentes e inflamação da língua (glossite) podem ser sinais da doença.
- Pele: A dermatite herpetiforme, uma erupção cutânea com bolhas que coçam intensamente, é uma manifestação específica da Doença Celíaca.
- Sistema Nervoso: Sintomas neurológicos como dores de cabeça, neuropatia periférica (formigamento e dormência nas extremidades) e até mesmo alterações cognitivas podem ocorrer.
- Saúde Mental: Estudos têm demonstrado uma maior prevalência de ansiedade e depressão em indivíduos com Doença Celíaca, possivelmente devido à inflamação crônica, deficiências nutricionais e ao impacto da doença na qualidade de vida.
- Fertilidade e Saúde Reprodutiva: A Doença Celíaca não tratada tem sido associada a menarca tardia, dificuldades na concepção, aumento do risco de aborto espontâneo, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Em homens, pode haver alterações na qualidade do esperma.
Diagnóstico e Tratamento: Um Compromisso para a Vida
O diagnóstico da Doença Celíaca geralmente envolve uma combinação de avaliação clínica, exames de sangue para detectar anticorpos específicos (como o anti-transglutaminase tecidual IgA) e, fundamentalmente, a biópsia do intestino delgado realizada durante a endoscopia digestiva alta. A biópsia permite verificar o dano nas vilosidades intestinais característico da doença.
É crucial ressaltar que o tratamento primário e essencial para a Doença Celíaca é uma dieta rigorosa e permanente sem glúten. A exclusão total do glúten da alimentação permite a recuperação da mucosa intestinal, a melhora da absorção de nutrientes e a resolução dos sintomas, tanto gastrointestinais quanto extra-intestinais. É fundamental o acompanhamento de um nutricionista para garantir uma dieta equilibrada e evitar deficiências nutricionais.
Embora a adesão a uma dieta sem glúten possa ser desafiadora no início, é o pilar para uma vida saudável para os celíacos. A conscientização sobre a Doença Celíaca e suas diversas manifestações é fundamental para um diagnóstico precoce e um manejo adequado, melhorando significativamente a qualidade de vida daqueles que convivem com essa condição.
Se você apresenta sintomas persistentes, sejam eles digestivos ou em outros sistemas do corpo, converse com seu médico. Investigar a possibilidade de Doença Celíaca pode ser o primeiro passo para uma vida mais saudável e com mais bem-estar.
Dra. Raquel.
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